14 1 Os fariseus e alguns dos escribas vindos de Jerusalém
tinham se reunido em torno dele. 2 E perceberam que alguns dos seus discípulos
comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as lavar. 3 (Com efeito, os
fariseus e todos os judeus, apegando-se à tradição dos antigos, não comem sem
lavar cuidadosamente as mãos; 4 e, quando voltam do mercado, não comem sem ter
feito abluções. E há muitos outros costumes que observam por tradição, como
lavar os copos, os jarros e os pratos de metal.) 5 Os fariseus e os escribas
perguntaram-lhe: Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos
antigos, mas comem o pão com as mãos impuras? 6 Jesus disse-lhes: Isaías com
muita razão profetizou de vós, hipócritas, quando escreveu: Este povo honra-me
com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. 7 Em vão, pois, me cultuam,
porque ensinam doutrinas e preceitos humanos (29,13). 8 Deixando o mandamento
de Deus, vos apegais à tradição dos homens. 9 E Jesus acrescentou: Na
realidade, invalidais o mandamento de Deus para estabelecer a vossa tradição. 10
Pois Moisés disse: Honra teu pai e tua mãe; e: Todo aquele que amaldiçoar pai
ou mãe seja morto. 11 Vós, porém, dizeis: Se alguém disser ao pai ou à mãe:
Qualquer coisa que de minha parte te pudesse ser útil é corban, isto é, oferta,
12 e já não lhe deixais fazer coisa alguma a favor de seu pai ou de sua mãe, 13
anulando a palavra de Deus por vossa tradição que vós vos transmitistes. E
fazeis ainda muitas coisas semelhantes. 14 Tendo chamado de novo a turba,
dizia-lhes: Ouvi-me todos, e entendei. 15 Nada há fora do homem que, entrando
nele, o possa manchar; mas o que sai do homem, isso é que mancha o homem. 16
[bom entendedor meia palavra basta.]
17 Quando deixou o povo e entrou em casa, os seus discípulos perguntaram-lhe
acerca da parábola. 18 Respondeu-lhes: Sois também vós assim ignorantes? Não compreendeis
que tudo o que de fora entra no homem não o pode tornar impuro, 19 porque não
lhe entra no coração, mas vai ao ventre e dali segue sua lei natural? Assim ele
declarava puros todos os alimentos. E acrescentava: 20 Ora, o que sai do homem,
isso é que mancha o homem. 21 Porque é do interior do coração dos homens que
procedem os maus 15 pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos, 22
adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidade, inveja, difamação,
orgulho e insensatez. 23 Todos estes vícios procedem de dentro e tornam impuro
o homem. 24 Em seguida, deixando aquele lugar, foi para a terra de Tiro e de Sidônia.
E tendo entrado numa casa, não quis que ninguém o soubesse. Mas não pôde ficar
oculto, 25 pois uma mulher, cuja filha possuía um espírito imundo, logo que soube
que ele estava ali, entrou e caiu a seus pés. 26 (Essa mulher era pagã, de
origem siro-fenícia.) Ora, ela suplicava-lhe que expelisse de sua filha o
demônio. 27 Disse-lhe Jesus: Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque
nãofica bem tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cães. 28 Mas ela respondeu: É
verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos debaixo da mesa comem das migalhas
dos filhos. 29 Jesus respondeu-lhe: Por causa desta palavra, vai-te, que saiu o
demônio de tua filha. 30 Voltou ela para casa e achou a menina deitada na cama.
O demônio havia saído.31 Ele deixou de novo as fronteiras de Tiro e foi por
Sidônia ao mar da Galiléia, no meio do território da Decápole. 32 Ora,
apresentaram-lhe um surdo-mudo, rogando-lhe que lhe impusesse a mão. 33 Jesus
tomou-o à parte dentre o povo, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e tocou-lhe a
língua com saliva. 34 E levantou os olhos ao céu, deu um suspiro e disse-lhe:
Éfeta!, que quer dizer abre-te! 35 No mesmo instante os ouvidos se lhe abriram,
a prisão da língua se lhe desfez e ele falava perfeitamente. 36 Proibiu-lhes
que o dissessem a alguém. Mas quanto mais lhes proibia, tanto mais o
publicavam. 37 E tanto mais se admiravam, dizendo: Ele fez bem todas as coisas.
Fez ouvir os surdos e falar os mudos!
Capítulo 8
1 Naqueles dias, como fosse novamente numerosa a multidão, e não
tivessem o que comer, Jesus convocou os discípulos e lhes disse: 2 Tenho
compaixão deste povo. Já há três dias perseveram comigo e não têm o que comer. 3
Se os despedir em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho; e alguns
deles vieram de longe!4 Seus discípulos responderam-lhe: Como poderá alguém
fartá-los de 16 pão aqui no deserto? 5 Mas ele perguntou-lhes: Quantos pães
tendes? Sete, responderam. 6 Mandou então que o povo se assentasse no chão.
Tomando os sete pães, deu graças, partiu-os e entregou-os a seus discípulos,
para que os distribuíssem e eles os distribuíram ao povo. 7 Tinham também
alguns peixinhos. Ele os abençoou e mandou também distribuí-los. 8 Comeram e
ficaram fartos, e dos pedaços que sobraram levantaram sete cestos. 9 Ora, os
que comeram eram cerca de quatro mil pessoas. Em seguida, Jesus os despediu. 10
E embarcando depois com seus discípulos, foi para o território de Dalmanuta. 11
Vieram os fariseus e puseram-se a disputar com ele e pediram-lhe um sinal do
céu, para pô-lo à prova. 12 Jesus, porém, suspirando no seu coração, disse: Por
que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: jamais lhe será dado um
sinal. 13 Deixou-os e seguiu de barca para a outra margem. 14 Aconteceu que
eles haviam esquecido de levar pães consigo. Na barca havia um único pão. 15
Jesus advertiu-os: Abri os olhos e acautelai-vos do fermento dos fariseus e do
fermento de Herodes! 16 E eles comentavam entre si que era por não terem pão. 17
Jesus percebeu-o e disse-lhes: Por que discutis por não terdes pão? Ainda não
tendes refletido nem compreendido? Tendes, pois, o coração insensível? 18 Tendo
olhos, não vedes? E tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais mais? 19 Ao
partir eu os cinco pães entre os cinco mil, quantos cestos recolhestes cheios
de pedaços? Responderam-lhe: Doze. 20 E quando eu parti os sete pães entre os
quatro mil homens, quantos cestos de pedaços levantastes? Sete,
responderam-lhe. 21 Jesus disse-lhes: Como é que ainda não entendeis?... 22
Chegando eles a Betsaida, trouxeram-lhe um cego e suplicaram-lhe que o tocasse.
23 Jesus tomou o cego pela mão e levou-o para fora da aldeia. Pôs-lhe saliva
nos olhos e, impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: Vês alguma coisa? 24 O cego
levantou os olhos e respondeu: Vejo os homens como árvores que andam. 25 Em
seguida, Jesus lhe impôs as mãos nos olhos e ele começou a ver e ficou curado,
de modo que via distintamente de longe. 26 E mandou-o para casa, dizendo-lhe:
Não entres nem mesmo na 17 aldeia. 27 Jesus saiu com os seus discípulos para as
aldeias de Cesaréia de Filipe, e pelo caminho perguntou-lhes: Quem dizem os
homens que eu sou? 28 Responderam-lhe os discípulos: João Batista; outros,
Elias; outros, um dos profetas. 29 Então perguntou-lhes Jesus: E vós, quem
dizeis que eu sou? Respondeu Pedro: Tu és o Cristo. 30 E ordenou-lhes severamente
que a ninguém dissessem nada a respeito dele. 31 E começou a ensinar-lhes que
era necessário que o Filho do homem padecesse muito, fosse rejeitado pelos
anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, e fosse morto, mas
ressuscitasse depois de três dias. 32 E falava-lhes abertamente dessas coisas.
Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo. 33 Mas, voltando-se ele,
olhou para os seus discípulos e repreendeu a Pedro: Afasta-te de mim, Satanás,
porque teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens. 34 Em seguida,
convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém
me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. 35 Porque o
que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor
de mim e do Evangelho, salvá-la-á. 36 Pois que aproveitará ao homem ganhar o
mundo inteiro, se vier a perder a sua vida? 37 Ou que dará o homem em troca da
sua vida? 38 Porque, se nesta geração adúltera e pecadora alguém se envergonhar
de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele,
quando vier na glória de seu Pai com os seus santos anjos.
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